Monday, August 27, 2007

Um dia no parque


Que título mais banal para um texto. Pois é. Mas não deixa de ser menos verdade que, hoje em dia, poucos de nós podem iniciar um post com este título. Sobretudo se quisermos partilhar o estranhamente familiar conjunto de sentimentos que um par de horas sentado na relva pode provocar.

Hoje fui ao parque. Há muito tempo que não o fazia. E o mais curioso de tudo é que não o planeei. Por isso me soube tão bem. Outra verdade banal, bem sei – planeamos demais, calculamos ao milímetro, não vivemos; cumprimos um plano. E se olharmos para trás acabamos por perceber que alguns dos momentos mais fantásticos da nossa vida aconteceram por acaso, sem qualquer plano. E ainda assim, parece que teimamos em não aprender…. Saboreamos, desfrutamos, mas quando voltamos ao nosso medo de viver, tornamos a planear… sem termos presente em todo e a cada momento que, na vida, o que muda tudo são detalhes, imprevistos, situações, pessoas e momentos inesperados! Aquilo que o magnífico filme Ensemble c’est tout nos ensina a chamar de poder transformador das pequenas coisas…

O contexto favorecia…sozinho numa cidade estrangeira, acabado de chegar, tinha de suprir uma necessidade básica – almoçar. Fi-lo, sozinho ainda. Depois de acabar – rápida refeição, pois se há momento deprimente na vida é ter de comer sozinho – apeteceu-me caminhar… Nunca tinha estado nesta carismática cidade basca de Bilbao e parece que toda a vida caminhei por estas ruas. É estranho isto – premonitório. Como se o meu destino final naquele dia fosse simplesmente encontrar aquele magnífico jardim… Encontrei-o, esplêndido, com árvores de que não sei o nome, mas que me apetecia que pudessem conversar comigo e partilhar as inúmeras histórias a que por ali já assistiram… lagos, fontes, canteiros, flores, casais de namorados, amigos, gente que passa por ali a seguir ao almoço à procura de uma pausa no frenético quotidiano em que gostamos de nos perder. Avós com os netos, alguns com os netos e os filhos (é espantoso o sentimento de pertença e solidariedade familiar que se sente aqui!), crianças a brincar… até gente que simplesmente passa por ali a caminho dos seus destinos imediatos, que cruzam as avenidas deste imenso parque como se estivessem a atravessar uma passadeira – importante é chegar rápido ao outro lado. Será que algum dia irão perceber que só lugares mágicos como este nos podem trazer a paz interior que precisamos??

Fui-me embora. Queria regressar, mas vestido à altura. Ou seja, despido de objectos – sem telemóveis, ipod’s, cartões, nada. Só o meu livro do momento. E assim regressei. Sentei-me. Olhei em redor. Senti-me em paz (num dia em que precisava tanto). Fechei os olhos. E pensei em ti.

Era inevitável. Ao mesmo tempo que tudo isto acontecia – chegada para férias, cidade e país por descobrir, o sentimento de aventura, almoço sozinho, descoberta interior proporcionada por um lugar de magia e esperança (de que o mundo pode sempre voltar a sorrir-nos!) – tudo ficou muito claro na minha cabeça, no meu coração. Como se uma lucidez incontestável estivesse ali diante de mim, assumindo a forma de uma árvore que, com a sua sabedoria secular, me dissesse baixinho ao ouvido todas as coisas que não tenho coragem de me dizer a mim mesmo. E que me impedem de viver.

Mas ao mesmo tempo, tudo parece não fazer sentido algum. Já não és minha, apesar de saber que apenas contigo eu fui verdadeiramente de alguém. Amar-te-ei para sempre, disse-to desde o primeiro ao último minuto – mesmo quando nos separámos. Mas as nossas vidas seguiram caminhos tão diferentes! E hoje não tenho a lucidez de conseguir ver – onde está a árvore agora!? – o que vai acontecer a seguir.

Mas estou sereno. Sei que vou ser feliz. Que vou voltar a amar.

E de hoje a uma semana, quando as férias e esta aventura de descobrir lugares, cheiros, sabores (as pequenas coisas que transformam sítios banais como jardins em momentos transformadores das nossas vidas) saberei com toda a certeza que tudo isto faria muito mais sentido contigo aqui ao meu lado.

Sabes uma coisa? Sempre juntos, sempre. Mesmo que nunca mais a vida faça cruzar os nossos caminhos. Não tenho plano nenhum. Sei, bem no meu íntimo, que alguma pequena coisa transformará a minha vida.

Como uma ida ao parque.